domingo, 7 de novembro de 2010

Adalgisa Adelaide dos Reis





Adalgisa Adelaide dos Reis.
Nasceu em cinco de outubro de 86.
Era a irmã do meio, de altura mediana, cabelos claros, cara insossa.
Jeito quieto insosso, tolo.
Quase não se mexia, por assim dizer, Adalgisa Adelaide dos Reis.
Ao completar oito anos descobriu que em dias frios de inverno poderia esticar as roubas embaixo dos lençóis. Descobriu que podia dormir sobre o uniforme escolar e se vestir pela manhã sem sair da cama.
Adalgisa Adelaide dos Reis.
Gisa. Ou às vezes Ada.
Aos 11 anos descobriu que realmente não gostava de se mexer.
E não queria se mexer.
Seu jeito insosso, estranho e pálido a condenou a viver eternamente hibernando.
Adalgisa Adelaide dos Reis.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Eu nunca pensei poder ir contra minhas vontades por vontade própria.
É só que parece imutavel a confiança em seu próprio ser;
como aquele que não traí e não contradiz.

Parecemos ter certezas em nós, lá bem no fundo - ou às vezes bem na flor da pele ardendo as vistas de quem passa. E no fundo do nosso ser parece viver um outro "eu", disposto a eternamente nos fazer companhia, disposto a eternamente contradizer ou colocar em questão o que quer que tenhamos como idéia, pedaço de idéia, certeza, dúvida.

Não podemos nos forçar a fazer alguma coisa. Apenas concorda-se em agir de tal forma. Aceita-se e é feito. E dói saber que é mentira que 'fomos forçados a fazer' ou que 'me forcei a fazer'. Porque não podemos nos forçar. Podemos apenas aceitar ou não aceitar.

Aceita-se a condição, segue-se a condição. Nega-se e tenta mudar.

Uma pessoa não se fere - indo contra seu próprio ser - porque foi forçada a isso. Uma pessoa se fere por ter dialogado com seu ser e visto que isso era o certo a se fazer. Ponto.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Flashes pesados















Sinto como se o tempo tivesse passado
em flashes pesados
Como eu queria que a saudade tivesse um fim

Evaporando




























Fico tentando te descascar,
Tentando te abrir.
Fico tentando te beber,
Tentando te engolir.

Sou liquido transbordando,
Sou liquido me afogando.

Enquanto o tempo passa,
Eu estou evaporando.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Fantasmas do agora, Fantasmas do passado

Algumas pessoas buscam viver sem aflições, sem problemas. Sem nada que lhes atrapalhe, lhes tire do caminho. E algumas pessoas parecem realmente conseguir viver assim.

As vezes parece que a vida não deu certo, para nenhum de nós. Continuamos acordando todas as manhãs, pensando no café que talvez nem vamos tomar; E tendo certeza do dia que vamos ter que bebericar. E no fundo, no eco de cada dia, algo ressoa dizendo não...não! Que não deu certo...

Ninguém tem certeza da certeza.
o que é certo, o que não é?
Seguimos sentindo que tudo muda, segundo após segundo.
Que o tempo nos engole, nos digere, nos vomita e passa a nos lamber novamente.
Sem parar. Sem nunca parar.
seguimos...

As vezes parece que deixamos algo para trás. O que devia ter sido feito e o que não devia. O que devia ter sido esquecido e o que não foi.
Porque haverá a falta e a saudade, o arrependimento, a culpa, a injuria, a cólera.
E o passado parece algo tão mal aproveitado. O futuro parece algo tão limpo.
Quando o agora já é passado, pois no momento em que nos pomos a pensar nele,
sua transformação se concretiza. É passado.

Será que não há caminho para sessar os pensamentos no presente e viver no futuro?
O presente parece não existir e nos enganamos plenamente - o tempo todo! - com ele.
As vezes... parece que a vida não deu certo.
Ninguém tem certeza da certeza.
o que é certo, o que não é?

Porque, algumas pessoas, as vezes, parecem realmente viver sem nenhuma aflição.
Vivem invisíveis, sem motivos para correr atrás. Sem dores para se curar.

Outras pessoas desejam a tristeza, a melancolia, a depressão. Vivem a busca pelo eterno sangramento em dor. Tiram das aflições suas maiores inspirações.
Concretizam que somente da dor a arte vem.


Esse dom de viver com aflições faz com que nós, nós, sejamos fantasmas.
Fantasmas vivos, atrás da cura para desejos e vontades não atendidos.
Assim até o fim da vida.
Assim a cada segundo.
Assim a cada pedacinho do tempo, aquele tempo, que nos engole, nos digere, nos vomita e passa a nos lamber novamente.
Sem parar. Sem nunca parar.
Agora.
No agora que passado é.

sábado, 19 de junho de 2010


















O que aconteceu com o amor
pelo qual as gerações lutaram?







Foi quando os dias frios congelaram as pessoas.
Foi o regresso das mentes.

Foram parados os relógios mas
foi coagulado todo o sangue humano.

Não há necessidade de liberdade,
somos manequins sem sentimentos.
Eternamente expondo o mesmo vazio,
Eternamente erguendo as mesmas bandeiras
de sedas desbotadas.

Foi quando os dias frios congelaram as pessoas.
Foi o regresso das mentes.
Foi o presente.

Brócolis






















As folhas do brócolis têm aquele mesmo
gosto amargo e ácido que a vida tem.

As folhas do brócolis têm aquele mesmo
tom de veneno sutil que a vida tem.

O veneno tem o mesmo gosto amargo
e ácido que as folhas de brócolis têm

O amargo e o ácido tem o mesmo tom
de veneno sutil que as folhas de brócolis têm.

As folhas de veneno têm
a mesma vida que o ácido tem.

A vida tem o mesmo sutil que o amargo tem

O bórcolis tem as mesmas folhas de veneno que a vida tem.

Brócolis sutil que a vida tem.
Não Acredito em arrependimento.
Apenas acredito em música, sexo, dança e liberdade.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Iceberg I

É digno mesmo falar que nossa cabeça é um Iceberg.
E é genuíno mostrar como somos abaláveis.
Como a parte superficial já nos destrói,
e ao frio a sensibilidade aflora.

domingo, 4 de abril de 2010

O sabor do prazer.

Aquela porcaria da pia do banheiro estava, sabe-se lá, entupida, quebrada.
Velha com certeza. Apartamento velho.
Um inferno! Ir atrás de alguém para arrumar a merda da pia.
Já bastavam os problemas no hospital, os plantões intermináveis, o curso chato de medicina que fazia frustadamente.
Ou não. Porque sabia que gostava do curso e gostava muito. Sentia prazer na coisa toda, sangue, dor e um sofrimentozinho. Achava bacana.
Mas aquele dia em especial estava mal humorado.
E porra! A pia tinha que estar com o encanamento fodido? Não saia água direito, aquilo irritava!
Irritava porque já bastavam os cinzeiros da casa vomitando cinzas por todos os lados, a cozinha com comidas ainda nas panelas, a geladeira só com coisas ruins, louça para lavar, lixo para tirar, roupa para pendurar. CAOS!
Então chega em casa o porteiro fala que tem reunião de condomínio. Claro que ele não pode ir. Mas tem que cumprir funções sociais. E então quando precisar da ajuda de um vizinho para ver a porcaria da pia com defeito no encanamento, não conseguirá, pois claro. Não estava na reunião.
Já bastava ter terminado com a namorada.
Estava muito irritado. Merda e merda e merda! Tinha ainda que resolver a logística do dia seguinte. Teria mais um plantão com várias pessoas agonizando. Como ontem, um homem que prendeu o dedo na alavanca do guincho para carros e estourou tudo. As veias pulsavam para fora. Mas ele gostava disso.
Tinha um ódio tão grande pela humanidade. As vezes era cruel, pensava coisas terríveis. queria ver as pessoas morrerem mesmo. Adorava um sofrimento. Ele sofrera também. Não vinha ao caso de qualquer modo. O ser humano é ruim. que sofra, sinta dor. Sangue. Adorava sangue.
Passadas duas semanas de estresses ridículos - porque
todo estresse é meio ridículo - conseguiu um encanador, que entrou. Olhou. Trocou o cano. Avisou então que era uma sujeira e tal, mas que ia sair. Que provavelmente a agua da pia iria vir com um gosto forte por causa do cano, melhor escovar os dentes com agua mineral por uns dias. Ok nada demais.
Conseguiu arrumar a sala neste dia. Colocou um jaleco para lavar. Tinha também que ver o final de semana, se realmente iria viajar, se iria conseguir. Lembrou-se da pequena menina que atendera. Ela caiu no parquinho e estava com a perna estouradadissima. chorava muito e sentia dor. A mãe era meio psicótica-neurótica e não deixou a menina levar anestesia nenhuma porque dizia que ela iria piorar e que na familia deles isso de anestesia não dava certo. Fazer frio as vezes pesava...
Tomou um banho. Ligou uma musica para desestressar. Sentia falta da tal da namorada afinal. Era louca. Brigaram feio. Mas dava aquele aperto imbessíl no peito. Falta de sexo? Já? Raiva dela na realidade. Loira estúpida. reclamava muito da vida que levava.
Foi escovar os dentes. A agua tinha mesmo um gosto forte. Meio de ferrugem. Mas não estava suja. O sabor do ferro. Do interno. Do profundo.
De qualquer modo aquilo ia sair... Ele nõa beberia aquela agua... Tudo tranquilo.
Acabou não marcando a viagem porque teria plantão mesmo. No sábado pela manha o plantão foi cancelado. Então chamou uns amigos para beberem ali mesmo. Deu uma geral nas coisas. Todos chegaram pelas 21horas. Foi como sempre. os mesmos caras, os mesmos papos.
Mas ainda assim não era a mesma coisa. Eles não tinham mais a graça de antes. Ou antes era ingênuo demais para ver como eram idiotas seus amigos. papos ridículos!
E quando você se senta para beber com um amigo, amigo este que antes você dizia ser grande amigo, e vê que a sintonia não é a mesma... Não há o que fazer. Não há!
Como o café frio... Ninguém vai tentar esquentar isso tudo. Foda-se. Estavam todos ali.
E não era possível a ele tentar agir como antigamente. Era obvio que ele havia mudado. Que pensava diferente. E que os outros notavam isso. Contava do prazer de seu trabalho. Do prazer mórbido das coisas que fazia no hospital. Não era descarado mas era visível. Ele tinha uma coisa meio fria demais. Os amigos até estranharam. Teria sido um fim silencioso de noite se não fosse pela bebida.Todos beberam muito.
Um dos meninos passou horas no banheiro gorfando a vida. Um desgaste só. Ainda reclamou do gosto da agua na pia. A merda daquela pia velha. Merda do gosto. O sabor do ferro. Do interno. Do profundo. Mas não incomodava a ele. Não a ele...
No dia seguinte acordou com o celular vibrando forte na mesinha ao lado do sofá. Dormira ali mesmo. Que dor de cabeça! Pegou o celular mas no delírio ainda de sono e álcool errou a tecla para atender. O aparelinho infernal tocou novamente. Era a ex. Ela estava vindo ai. Merda.
Claro que ele caiu. Dizia caiu porque agora já estava se sentindo mal. E culpado. Queria dar um fim nela. Chata irritante. Mas linda. Boa. Lhe dava prazer. E era só. Ela também reclamou do gosto da pia. Dizia que tinha um gosto forte de ferro. Foda-se a opinião dela também. Não importava. Ela estava ali, lhe fazia bem fisicamente. Espiritualmente podia ver-lhe morta. Mesmo.
Na faculdade estava indo bem. Isso ao menos era positivo, não preocupava a familia. Então ele não teria mais um problema no seu pé. Mas se sentia vazio com isso tudo. Gostava. Mas era um gostar muito leve. Queria mais emoção. Emoção não era a palavra. Queria algo mais vibrante, mais prazeroso. E nisso, no plantão, só vinham pessoas com cortes na testa e na mão. Até um dia em que veio um casal. Ele carregando ela. Toda ensagüentada. Uma sopa humana semi viva de tripas. Aquilo ia direto para a parte interna do hospital. O culpado era obviamente ele. Foi um problemão. Policiais lá dentro de um lado ao outro. Mais pessoas vindo machucadas com outros problemas e as coisas numa correria ainda maior.
Ele pediu para um colega o cobrir no plantão e foi ver o caso deste casal. Havia lhe chamado a atenção. A menina com mais do que certeza já havia embarcado para uma melhor. Mas o sujeito estava lá sentado, levando uns pontos também... não sabia bem porque. Os policiais interrogaram alguns médicos e esperavam para prender o tal assassino.
Com cara assustada o culpado olhou para o estudante. Este lhe perguntou se havia sido bom.
Que dia. Que dia!
Chegou em casa mais atordoado que o normal. Sentou-se no sofá. Fumou por muito tempo olhando para a parede vazia. Levantou-se e abriu a torneira. A merda da torneira do banheiro velho. Do apartamento velho.
Pensou enquanto muita agua escorria. Cheirou a água. Bebeu.
Não era gosto de ferro. Não era ferrugem. Não. Não era ruim.
O sabor do ferro. Do interno. Do profundo. Era um gosto... Um gosto forte. Sangue tinha um gosto assim. Exatamente assim. Não era ruim nem forte nem...
Era bom. Era prazeroso. Prazeirosíssimo.
Voltou-se ao sofá. Pegou o celular. Hesitou meio segundo. Ligou.
Não demorou nada a atender. Era ela.
Enjoada, chata. Fresca. Mas doce. Muito doce. Uma doçura sensual. Era claro que ela iria.
Era bonita a desgraçada. Não lhe largava o pé. Mas não faria mal. Esta noite tudo se acalmaria.
Ela chegou rápido. Seus olhos intensos com seu último brilho para ser dado à alguém.
Ele perguntou a ela se ele lhe dava prazer. E queria saber se ela queria dar-lhe ainda mais prazer do que já lhe dava. E ele gostava de como isso soava inocente. Era ótimo. Era genial.
Uma luxúria incrível...
Um prazer absoluto e intenso. O gozo em meio ao sangue.
O sabor do ferro. Do interno. Do profundo.
A doçura dela em seus berros incríveis. Incríveis!
Como era doce! Como era doce!
O limiar entre a vida e a morte. Um êxtase maravilhoso de se sentir.
O sabor do ferro. Do interno. Do profundo.
O sabor prazer... O sabor do prazer...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Fronhas Sufocantes
























Fronhas sufocantes. Cheiro humano.
Humano demais.
Algodão.
Canto das colheitas.
dança da chuva.
Canto da parede.
fios, fiação, tecelões, algodão.
Lenço, Saudades, Lágrima, Suor.
lençol, fronha, eu e você.
Fronhas sufocantes, Cheiro humano.
Humano demais para mim.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Cidade de Chuva



Oh! Cidade de Chuva!
Labirinto de decepções!
Se saudade só existe aqui,
Doem ainda mais os corações.

Os sons invisíveis.
O riso.
O lamento.

Oh! Cidade de Chuva!
Labirinto de decepções.
Lava minh'alma,
Me escorra em sal!

No dia em que a chuva passar,
Darei ao tempo,
Um tempo, para secar...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

eu não amo





























eu não amo
e não sei amar
só não quero amar
me sinto bem assim
é ótimo
eu não amo
e não sei amar
só não quero amar
me sinto bem assim
é ótimoeu não amo
e não sei amar
só não quero amar
me sinto bem assim
é ótimoeu não amo
e não sei amar
só não quero amar
me sinto bem assim
é ótimoeu não amo
e não sei amar
só não quero amar
me sinto bem assim
é ótimoeu não amo
e não sei amar
só não quero amar
me sinto bem assim
é ótimo

No fundo

somos apenas muco e pêlos
vísceras e sangue
e dizem que dentro
bem no fundo
existe um coração
que não passa de gordura
e ainda mais sangue
músculo
e dizem sentir
sentir alí bem no fundo
quando tudo não passa de sangue
e vísceras, muco e pêlos
tudo exposto às moscas
do fim da vida
porque lá no fundo
no fundo da terra em que te puserem
não fará diferença se você sentiu ou não
no músculo, na gordura,
nas vísceras ou nos pêlos
ou se sentiu mais fundo...
a cova é a mesma.
a mentira é a mesma.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

ainda é carnaval alí



















Contas e miçangas
ainda é carnaval por aqui.
Bêbados sem destino
ginga de malandro.
A cidade se cobre no grande manto da Padroeira
e por debaixo dele excita todos os pecados.



Contas e miçangas...
ainda é carnaval por aqui...



Lança perfume
lança no vento
cheira veneno


Brisa.




Ainda é carnaval alí.

Artista de Rua






























Senhora do Casaco,
Esqueceu as chaves,
Ficou para fora

Conheceu um artista de rua.
Ele estava maquiado,
De cinza, azul,
laranja e roxo.

Lindo era o jovem.
Mas era de rua,
E não tinha chaves.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

c o n c e r t a n d o


































O meu vestido ainda estava alí, igual,
desabotoado como suas mãos o fizeram.
A cidade agora já estava vazia.
Os quartos silenciosos...
Os lençóis pousados
com suas dobras desiguais.
A preguiça que seguia,
em caminhos pelas ruas...
Os que ficaram cantam baixinho.
Dia após dia de chuva e calor.
O vácuo gigantesco,
o buraco sem medida.
No fundo do fundo.
Papéis voam pelas sargetas.
Nossos papéis foram trocados.
Os que foram sonham.
As lembranças cantaram mais alto
do que o cotidiano assimétrico
que temos para vislumbrar.
Cantaram notas de papel.
E para lá, seja aonde for,
tudo volta ao casual.
Saudade era sentimento nosso.
Agora virou meu.
Egoísmo doído e sem escolha.
Acaso impulsivo, explosivo!
Foi um entrar brusco
numa rota de dois anos.
O ardor dessa imprudência
queima minha alma.
Mas logo passa a calmaria
logo passa a cólera.
Ficaram as notas suspensas.
As notas em branco.
E os tempos errados,
que iremos aos poucos..
c o n c e r t a n d o .


sábado, 6 de fevereiro de 2010

Limiar




















Pintava minhas mãos
com arabescos
com cores
com sonhos.

Desbotava meus cabelos
em águas turvas
águas densas

águas salgadas
lágrimas...

Fácil ficar apática
luxos e êxtases
absurdos.

Limiar da dor
limiar do prazer.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Saudade


Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

Pablo Neruda
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Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco:
quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira
é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

Clarice Lispector
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O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais;
há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo,
pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada,
com uma alma intensa, violenta, atormentada,
uma alma que não se sente bem onde está,
que tem saudade…
sei lá de quê!

Florbela Espanca
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Quando penso em você, fecho os olhos de saudade
De longe te hei de amar- da tranquila distância
em que o amor é saudade
e o desejo, constância.

Cecília Meireles
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Ter saudade até que é bom
é melhor que caminhar vazio

Peninha
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Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste

Carlos Drummond De Andrade
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Por que sinto falta de você? Por que está saudade?
Eu não te vejo mas imagino suas expressões, sua voz teu cheiro.
Sua amizade me faz sonhar com um carinho,
Um caminhar, a luz da lua, a beira mar.
Saudade este sentimento de vazio que me tira o sono
me fazendo sentir num triste abandono, é amizade eu sei, será amor talvez...
Só não quero perder sua amizade, esta amizade...
Que me fortalece me enobrece por ter você.

Machado de Assis