quinta-feira, 28 de junho de 2007

Melancolia

Como me sinto?
Sosinha!
Fim de dia,
Inútil!
Cansativo!
Vazio!
Aquele disco ansioso a tocar...
Lá longe, sem atingir os ouvidos de ninguém,
Melancolia!
E eu apenas a esperar algo novo,
Me sentindo como um cálice largado após o vinho acabar:
Totalmente sem atrativos, sem efeito sobre alguém...
Me sentindo inútil,
Cansativa,
Vazia!
Camilla Di Lucca

Perto

Já era noite. Meia-noite, como o combinado. Não sei se era impressão, talvez fosse parte do meu nervosismo, mas estava muito silencioso naquela esquina...
Era verão e ainda de tarde havia chovido, criando um ar úmido e nublado que se misturava com a noite escura e sombria. Não havia postes de luz em parte alguma. A única luz era a da Lua, que projetava sombras estranhas nas casas, já sem vida em uma rua morta.
O vento trouxe um leve cheiro de fumaça e de repente surgiu um pequeno ponto vermelho-alaranjado, ao longe, de brasa incandescente de um cigarro. O silêncio foi quebrado por passos que vinham devagar pelo asfalto, esmagando pequenas pedras.
Os passos cessaram, uma pequena pausa para levar o cigarro pela ultima vez à boca, tragando levemente a fumaça, queimando, criando ainda mais brasa, num leve estalido tão suave... Único som da rua.
Ele foi vindo cada vez mais perto, senti meu coração acelerar. Parou de frente para mim, tirou a mão do bolso da calça e encostou de leve sob minha face, do meu lado esquerdo. Era uma mão tão quente e aconchegante, carinhosa. E ficou a me olhar, começando pelos pés. Com a outra mão pegou com cuidado em meu braço direito, olhando para a manga, ombro, pescoço. Fitou-me no rosto por um tempo. Fiquei a olhar seu cabelo bagunçado e desfiado, castanho claro, seu Blazer bem alinhado, levemente justo, com mangas de uma camisa saindo por baixo. Nada de gravata. Aquele cheiro dele, só dele, já tão familiar, aquela sensação tão incontrolável de tê-lo mais perto... Mais perto...
Tirou a mão do meu rosto para me abraçar. Veio devagar, me envolvendo completamente. Mais alto que eu, olhou para baixo, para meus olhos, eu para os dele. Lá havia um brilho incomum, projeção da luz da lua, prateado.
Sua beleza incomparável, incomum na triste escuridão da rua, com seu jeito tão bondoso. Veio vindo aos poucos mais perto, já podia sentir sua respiração quente, e ele finalmente me beijou. E eu mais uma vez me perdi dentro dele, ele dentro de mim.