quinta-feira, 12 de julho de 2007

Mendigos


Ninguém sabe quem são, o que fazem por aí, da onde vem ou para onde vão. Quase todos têm medo deles, nojo. Alguns têm pena e outros ódio deles. Mas no fundo, todos os que no seu dia-a-dia passam por vários deles, não dão a mínima. Um tanto desumano não pensar neles... Não imaginar que um dia talvez eles já foram como nós: Voltavam do trabalho tarde, chegando á sua casa alugada, sua mulher já deitada e cansada sem querer saber de você, que trabalhou muito por pouco. Com o tempo a família vai se afastando, cada qual no seu canto a pensar por si só. O grande marido já não agrada mais a mulher. O grande pai já não é mais o idolatrado. Sem ninguém, inevitável que o bar se torne freqüente ao pobre homem. Dívidas, se entristece por estar perdendo tudo de uma vez. Bebe. Chega tarde em casa, perde o emprego no dia seguinte, fica triste. Bebe...
Alguns viram mendigos porque querem. Simplesmente não agüentam mais o mundo do jeito que está, mas não tem poder o suficiente para mudar. Tiveram algum fracasso e desistiram de tudo. Entregaram-se livre e corajosamente ao mundo como ele é.
Porque também não pensar naqueles que vieram de longe para cá, procurando alguma luz na sua vida e perderam mais do que tudo, sem poder nem ao menos voltar? São como os índios que um dia foram donos de seu próprio lugar. Donos de tudo. Também tinham família. Hoje tem que muito procurar sementes, devido ao pouco numero de árvores, para fazer alguns colares, vendendo o que der para que seus pequenos possam comer. De noite ao dormir ainda podem acabar sendo queimados vivos por algum idiota preconceituoso, algum riquinho que o pai tanto deu de tudo na vida. O que estava errado com o perfeito menino então? Simples: Assim como aqueles que viraram ou são mendigos, este filhinho de papai não tem afeto. Não tem ninguém. Fazem de tudo para chamar atenção. Para ter seus pais á abraça-lo dizendo “Nós te amamos filhão!”. Mas este menino tem tudo ao seu alcance. È só pedir.
Pobres mendigos, querendo ou não ser um: á noite, ao deitarem-se ao luar, pedem ás estrelas um carinho, alguém. Pedem para voltar a ter algo, pedem para serem felizes, pedem para ter alguém para amar. Pedem para ter novamente aquela amada mãe que o levaria para a cama dando um “boa noite”, pedem para ter um abraço. Simples abraço de forte efeito. Simples ato que nenhum deles recebe á anos. Simples ato humano que poderia mudar um dia e fazer toda a diferença.
Mas no fundo, talvez, quem é desumano não são as pessoas. São os próprios mendigos, que de tanto sofrer e ficarem entregues á mais pura realidade, se esqueceram de como serem humanos. Simplesmente vivem em um outro mundo, em meio a bebidas, becos e cantalorías, como se neste mundo tudo fosse perfeito como eles sempre sonharam. Para eles não seria ruim ser mendigo. Seria talvez o seu próprio Nirvana de um espírito completamente, livre pelas selvas de pedra do mundo. Sem ligar para nada, nada é material em suas mãos, pois nada podem ter, mas tudo é mais do que real, pois suas mentes vão mais além do que o esperado por alguém de simples imaginação.

Camilla Di Lucca