quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

eu não amo





























eu não amo
e não sei amar
só não quero amar
me sinto bem assim
é ótimo
eu não amo
e não sei amar
só não quero amar
me sinto bem assim
é ótimoeu não amo
e não sei amar
só não quero amar
me sinto bem assim
é ótimoeu não amo
e não sei amar
só não quero amar
me sinto bem assim
é ótimoeu não amo
e não sei amar
só não quero amar
me sinto bem assim
é ótimoeu não amo
e não sei amar
só não quero amar
me sinto bem assim
é ótimo

No fundo

somos apenas muco e pêlos
vísceras e sangue
e dizem que dentro
bem no fundo
existe um coração
que não passa de gordura
e ainda mais sangue
músculo
e dizem sentir
sentir alí bem no fundo
quando tudo não passa de sangue
e vísceras, muco e pêlos
tudo exposto às moscas
do fim da vida
porque lá no fundo
no fundo da terra em que te puserem
não fará diferença se você sentiu ou não
no músculo, na gordura,
nas vísceras ou nos pêlos
ou se sentiu mais fundo...
a cova é a mesma.
a mentira é a mesma.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

ainda é carnaval alí



















Contas e miçangas
ainda é carnaval por aqui.
Bêbados sem destino
ginga de malandro.
A cidade se cobre no grande manto da Padroeira
e por debaixo dele excita todos os pecados.



Contas e miçangas...
ainda é carnaval por aqui...



Lança perfume
lança no vento
cheira veneno


Brisa.




Ainda é carnaval alí.

Artista de Rua






























Senhora do Casaco,
Esqueceu as chaves,
Ficou para fora

Conheceu um artista de rua.
Ele estava maquiado,
De cinza, azul,
laranja e roxo.

Lindo era o jovem.
Mas era de rua,
E não tinha chaves.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

c o n c e r t a n d o


































O meu vestido ainda estava alí, igual,
desabotoado como suas mãos o fizeram.
A cidade agora já estava vazia.
Os quartos silenciosos...
Os lençóis pousados
com suas dobras desiguais.
A preguiça que seguia,
em caminhos pelas ruas...
Os que ficaram cantam baixinho.
Dia após dia de chuva e calor.
O vácuo gigantesco,
o buraco sem medida.
No fundo do fundo.
Papéis voam pelas sargetas.
Nossos papéis foram trocados.
Os que foram sonham.
As lembranças cantaram mais alto
do que o cotidiano assimétrico
que temos para vislumbrar.
Cantaram notas de papel.
E para lá, seja aonde for,
tudo volta ao casual.
Saudade era sentimento nosso.
Agora virou meu.
Egoísmo doído e sem escolha.
Acaso impulsivo, explosivo!
Foi um entrar brusco
numa rota de dois anos.
O ardor dessa imprudência
queima minha alma.
Mas logo passa a calmaria
logo passa a cólera.
Ficaram as notas suspensas.
As notas em branco.
E os tempos errados,
que iremos aos poucos..
c o n c e r t a n d o .


sábado, 6 de fevereiro de 2010

Limiar




















Pintava minhas mãos
com arabescos
com cores
com sonhos.

Desbotava meus cabelos
em águas turvas
águas densas

águas salgadas
lágrimas...

Fácil ficar apática
luxos e êxtases
absurdos.

Limiar da dor
limiar do prazer.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Saudade


Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

Pablo Neruda
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Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco:
quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira
é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

Clarice Lispector
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O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais;
há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo,
pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada,
com uma alma intensa, violenta, atormentada,
uma alma que não se sente bem onde está,
que tem saudade…
sei lá de quê!

Florbela Espanca
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Quando penso em você, fecho os olhos de saudade
De longe te hei de amar- da tranquila distância
em que o amor é saudade
e o desejo, constância.

Cecília Meireles
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Ter saudade até que é bom
é melhor que caminhar vazio

Peninha
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Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste

Carlos Drummond De Andrade
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Por que sinto falta de você? Por que está saudade?
Eu não te vejo mas imagino suas expressões, sua voz teu cheiro.
Sua amizade me faz sonhar com um carinho,
Um caminhar, a luz da lua, a beira mar.
Saudade este sentimento de vazio que me tira o sono
me fazendo sentir num triste abandono, é amizade eu sei, será amor talvez...
Só não quero perder sua amizade, esta amizade...
Que me fortalece me enobrece por ter você.

Machado de Assis

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Apático





























Apático
e opaco.
Oco, caminhar vazio.

O céu lá em cima é azul
e nós aqui em baixo somos cinzas.

Cinzas sem cor,
que não vêm a hora de despertar,
Num colorido ardor.

Apático
e opaco.
Oco, caminhar vazio.