terça-feira, 16 de setembro de 2008

O Conde de Liechtenstein - Parte I

... havia vezes porém em que eu preferia ficar sozinha um pouco. Cansava de ficar constantemente ouvindo conselhos das tais Damas de Companhia, tolas! Descobri que eu podia ir quando quisesse na biblioteca da corte que era mais vazia que os outros lugares, não me sentia observada constantemente, podendo então estudar com cuidado as poesias mais fantásticas.
E assim passei a ficar um dia por semana completamente sozinha. Me perguntavam se não me atraia ir aos jardins, ler para as outras garotas. Apenas penso comigo que minha irmã é quem cumpre essa função social em nossa familia. Não pretendo ficar muito com todas essas pessoas, que ao meu olhar não passam de falsas. Não quero decidir já com quem casar e que posses vou ter, escolher alguém apenas pelo status que vou ganhar. Então talvez esse isolamento seja bom para mim.
Mas foi em um destes dias, em que decidi me empenhar a literatura francesa, que vi algo que me deixou mais pensativa do que o normal. Estava andando em busca de algo diferente e aos poucos fui me direcionando até uma torre mais alta da grande biblioteca, aonde nunca tinha ido. Lá haviam apenas livros sobre batalhas, conquistas, grandes impérios e exércitos e algo sobre o avanço das descobertas. Nada que eu realmente quisesse ler, até então.
Entre as estantes da torre, como em muitas outras da biblioteca, havia um quadro. Mal teria percebido, normalmente. Mas este, com sua moldura suntuosa em dourado forte, pintura delicada e perfeita, trazia um retrato marcante. Me fez sair da onde eu estava. Me transportou frente a frente a o homem dos olhos mais profundos e azuis que eu já vira. Seu cabelo macio e sedoso, ondulado em loiro solar, e sua pele branca com faces levemente coradas. Sua camisa muito bem engomada, de algodão pálido, era protegida pela brilhante e leve capa de seda preta, com uma gola de pele felpuda e luminosa quase viva. Suas luvas guardavam suas mãos fortes e ao mesmo tempo delicadas, e estas, seguravam sua espada banhada a ouro.
Repeti a seqüência de detalhes milhares de vezes, abismada com tal beleza do retrato. Eu tinha o tempo que precisava, o silencio que queria e estáva frente a frente com aquele que não se gabava, não demonstrava interesse ou desdêm, não me feria os sentimentos uma vez sequer.
Vi que o tempo tinha passado além do que eu esperava e deveria ir.

Um comentário:

Anônimo disse...

O.O
Agora eu estou oficialmente abismado. Sou suspeito para falar (não sou?), mas adorei. Sempre vale a pena acordar um pouco mais cedo para ler o que você escreve. Especialmente hoje - suspeito que meu dia acabou de ganhar em brilhod depois de ler algo assim : ]
Até logo e abraços
(não pude deixar de notar que essa era a parte 1)